sexta-feira, 9 de julho de 2010

A MINHA PARTE EU FIZ

Certo dia, daqueles que pode chamar de turbulento - um colega de trabalho entrou em minha sala e, como de costume, foi logo entregando um documento, dizendo: - é urgente! Outro colega, da sala, retrucou: - hoje, parece que tudo é importante, e você tem idéia de quantas urgências temos aqui? O outro, encurtando a discussão, respondeu-lhe: - bom... pelo menos, minha parte eu fiz (...)
Depois disso, passado o calor do momento, ficaram as ironias como um atributo à descontração, pra ser mais tênue – aquelas, muito comum nos escritórios. Em qualquer situação vinham as frases: “minha parte eu fiz; vou fazer minha parte; faça sua parte e eu faço a minha”...
Tal fato, pos-me a refletir que existem dois lados dessa discussão: Aquela em que o individuo sensato, ético e responsável faz pelo meio em que vive – a famosa “gota no oceano.” Do outro; aquele momento infeliz ou, em uma concepção da vida que passa unicamente pelo triunfo pessoal, individual, degradando e ignorando completamente o senso de equipe, do todo como semelhante.
Contudo, é natural que existam adeptos para ambos os lados, pois somos bilhões de pessoas por aí espalhadas – culturas, crenças... enfim, cada qual comungando a sua maneira. O que digo não se aplica a algum tipo de intolerância ou vicio a idealismo; trata-se da capacidade de raciocinar – é o que sobrepõe o ser humano dos demais seres, fato esse muito bem conhecido.
Temos muitos exemplos por aí, principalmente quando surgem “crises” como essa financeira que ronda, desafiando nossos temores e mexendo com o comodismo - ao mesmo tempo, estimula os mais criativos a exercitarem sua capacidade de mudança, (como o dia nasce da noite escura).
De volta a teoria. É necessário repensarmos o quanto o mundo é amplo e agora global do ponto de vista das ações, embora se possa viver em qualquer pais ou região. De outra forma, o que realmente conta é o futuro. Não adianta remoer o passado, o máximo que se possa fazer com o que passou é aprender. Assim, podemos começar analisando a diferença ou a relação entre “urgente e importante”
O que é importante e urgente? Há um quadrante que faz parte de um livro ao qual tive o privilégio de conhecer (A sabedoria da tartaruga, de Jose Luiz Trechera) e que em oportuno, possa representar as diversas possibilidades, basta nos situar:
Tarefas importantes e urgentes – consomem a maior parte do tempo de muitas pessoas e funcionando assim, dificilmente poderá organizar sua vida de maneira adequada e estará sempre “apagando incêndios”.
Tarefas urgentes, mas não importantes – essas sem dúvida, podem ser delegadas e é mais do que lógico que não cabe a quem deseja ser um centralizador.
Tarefas importantes e não urgentes – são atividades que requerem sossego para que se dedique a ela o tempo adequado e, é fundamental que esse quadrante seja prioritário na vida.
Tarefas não importantes e não urgentes – São as que deveriam ser evitadas. Em geral, o individuo as usa como evasão, para não encarar outro tipo de desafio.
Não menos importante, podemos alinhar também a essa teoria o fato de que organizações, estado e sociedade travam um embate quanto ao cumprimento das normas e leis, essas atreladas a uma consciência daquilo que é legal, porem não ético – utilizando-se da: Minha parte eu fiz.
Em resumo, existem centenas de teorias que possam auxiliar, mas de tal forma, seria necessário dar mais cursos para aprendermos a administrar a vida e, ao mesmo tempo, exercitar o trabalho coletivo. Numa sociedade em que de tempos em tempos transbordam especialistas em eficácia, falta a capacidade de disseminar abundantemente a contemplativa vida que tem por objetivo o “ser” e não o fazer (a razão, com o sentimento, com uma relação humana mais estreita e mais limpa). E, como a mudança está inteiramente no individuo - na insatisfação, de nada adianta mudar-se geograficamente, pois ao final será mais um...
Devemos admitir que desse auto-olhar perscrutador queremos todos escapar e aí então esteja à razão fundamental por que a máscara usada como refugio está tão presente nas relações. Será, portanto necessário evoluir, já que devemos conviver com as diferenças, e essa ainda continuará a fazer parte de nosso dia-dia. Pode parecer pouco, mas minha parte eu fiz, considerando que foi uma terça parte de uma gota dentro de todo oceano.

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