segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ninho

Não notei:
um passaro
sumiu do ninho
o aconchego deixado
galhos novos e fortes
mas,
minhas raizes são fracas
e
meu nutriente é a vida

sábado, 8 de dezembro de 2012

A cada ano vencido / um pedaço do sono era retirado / são equívocos da vida? / é preciso soprar um vento de inquietude /  formado por um carbono de contradições / Os anos sentirão saudades...

domingo, 18 de março de 2012

AGORA

"Que leve a loucura então. Veremos o que o corpo responde, quando a vontade conspira"

MEU PAPEL EM BRANCO


 
este lugar me faz distante do eu manifesto
empobrece o fulgor dos dias
ponte de cordas sendo roídas
no tempo que permaneço atalhado
exageração: combustível terrível
queria incendiar as folhas brancas
apertar os passos dessa maré
vejo que todos inalam essa emanação de ódio
franco desejo do silêncio podre
é com receio da pobreza humana
quefazeres, por mim, sobreviver a usança
prefiro depois da lembrança, recorrer a mutação
e d'outro lado abarracado ficarei
vizinho as chamas
feito de folhas brancas no cabeço dessa historíola
em que os homens ordinários
ditaram seus preceitos básicos de cupidez
meu prognóstico é o também
usado pelo grosso número de pessoas alheias
sem conteúdo, sem argumento para seu sangue
e sem saber o que registrar
Cândida folha, que não me trouxe auxílio algum.

ELA


Gozo o prazer de haver trocado por um minuto minha forma de homem.
Parem as vidas por um instante:
É ela que, arremessou um vulcão de bioquímica fogueira em meu corpo.
Um olhar gentil preso as cordas do mistério.
Todos teem segredos incubados esperando egressão.
Mas ela é o único suspiro que vejo.
Numa sala escura e tranquila, seus cabelos se confundem...
Ha um clamor partindo entre seus lábios.
Um corpo labiríntico que passa na mente dum vasto alucinado.
Desses que são abafados com suas trevas interiores e amparados pela delicadeza.
Ela, que aparentemente não sorri com hora marcada; brilha vingadora.
Uma vivacidade romanesca que somente ela demonstrara.
Ela, que suporta o tudo pelo gosto da vida.
... ela, que por ventura, será um rosto a ser lembrado.
Um semblante doce, pronto pra sentir e falar de amor.

PERFUME


                   Pelos arrabaldes
         ainda meio tonto, cambaleando
     batimento cardíaco voltou habitual
                       de onde saiu:
           em busca, do aroma perdido
                          encontrei
um vidro quebrado, aos pés da penteadeira
      a desesperança, talhou minha alma
   e à noite, vou cheirar, quebrando regras
             tempestuosa sensualidade
               é um perfume que se foi...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Por ora

Para o ser humano, situações ruins não deveriam passar nem que fosse para uma breve visita e, não adianta argumentos psicológicos ou religiosos de que é necessário um tanto de sofrimento (...). O fato porem, é que sofrer faz parte do processo de viver. Em contrapartida, o que é o sofrer? Esse suportar pode ser para algumas pessoas um pacote do destino; para outras, resultado duma procura inconsciente e até mesmo consciente.
Quem nunca vivenciou ou viverá para dizer a frase: "não esperava que isso fosse acontecer comigo"? De nada adianta estarmos em estado de alerta o tempo todo, se não podemos antecipar-se plenamente ao sofrimento. O que podemos, é evitar situações que venham a alimentar um sofrimento, e ainda assim, longe da possibilidade de não tê-lo no decorrer de nossas vidas.
Como antecessor desta angústia, esse estado, poderá originar o medo, que em doses normais e longe da fobia, trará um equilíbrio - gerando uma resposta de alerta no organismo, preparando o individuo para luta ou fuga, que, em linhas gerais, tenderá a ser uma leve ansiedade ou, na pior das hipóteses - em pavor - o que basicamente traria a necessidade de uma intervenção profissional.

Diferente do sofrer, à alegria, baseado em momentos felizes, se torna uma busca diária -, levando em consideração que um dia feliz se tornará passado motivador para busca de outro porvindouro e assim por diante. E, por mais incrível que possa parecer, trata-se, a principio, de uma busca solitária - partindo do raciocínio em que cada indivíduo é um só e, mesmo que sua sina seja para viver em sociedade e pela sociedade. Em outro ponto de vista, àquele que procura a felicidade para si só; não há de contemplá-la vibrantemente já que a felicidade tem de ser vista e consequentemente compartilhada.

Futebol e Octógono


   Em meados de 2002 voltávamos de uma pelada dum final de semana qualquer. Cansados e com muito calor, resolvemos aportar num bar para tomar umas cervejas e como de praxe discutir os lances da partida. Na televisão, passava a reprise de uma luta de vale tudo. Dum lado, um japonês com massa corporal diferente da maioria do oriental que conhecemos, além do praticante de sumo, é claro; do outro, um americano com ar de superioridade – típico patriota vestido com a bandeira dos EUA. Nós, que estávamos entretidos na conversa futebolística tipicamente brasileira, não havíamos percebido o inicio da luta.
   Instantes depois, um dos nossos, coincidentemente um nissei, sansei ou yonsei... não sabia exatamente, até então nunca havíamos tocado sobre esse assunto – pois bem – ele começou gradativamente a desviar o olhar para a tv. Por análise empírica, atitudes como essa, naturalmente despertam interesse do grupo, alias – o que mais desviaria o foco do futebol além do próprio futebol?, senão uma linda e deleitosa madama adentrando no recinto ou, a mesma imagem incendiária explodindo em curvas e bunda na telinha de um comercial de cerveja. 
   Curiosamente, o interesse pela luta foi se alastrando pelo grupo, até chegar ao último membro que se recusara dar destaque a um aspirante esporte tão violento e dispensável. Os gols de letra a base do nunca mais fará um desses, as notáveis furadas, os frangos..., enfim, gozações intermináveis e, no entanto, o estimulo pela redonda; mais importante até aquele momento, fora reduzido num pequeno espaço chamado octógono. E, não restando alternativa, todos já estavam atentos aos lances, digo, golpes que eram oferecidos para o delírio do público que circulara o recinto. 
   Ao final, o que parecera lógico perante o contagio da torcida, que por sinal era americana, se confirmara: o aparentemente arrogante norte americano ganhara a luta por nocaute, deixando o japonês criado com fermento russo, todo ensangüentado e estirado ao chão.
   Depois desse dia, pouca coisa eu ouvia falar dessas lutas, até então, porque circulavam apenas em canais por assinatura e este, por sinal, à época, não fazia parte do meu fluxo de caixa.
   Anos depois, um amigo de academia que já estava totalmente dominado pela nova modalidade de luta, percebeu que eu andava um pouco irritado e estressado,  então me ofereceu um dvd que contava sobre a origem e defendia o propósito dessa sensação, dizia ele, todo empolgado. Eu, porem, educadamente e aberto a novos conhecimentos, aceitei. Confesso que não assisti. Preferia descarregar meu estresse com vicissitudes diferentes.
   Hoje, em resumo a toda essa história, tenho a dizer que passo a compreender a razão pelo qual esses dedicados malucos do MMA lutam, afinal, lutadores lutam e, nenhum deles é obrigado a fazê-lo; fazem, porque é o que sabem fazer e creio que temem conviver com a possível dor da força desaproveitada. E vou mais além ainda, fazendo uma analogia com quaisquer profissionais que buscam seu espaço: A cada luta, tanto no triunfo quanto na derrota (derrota essa que deixa marcas e no sentido literal da palavra), essa pessoa tem de pegar seu currículo, avaliar suas falhas, superar seus medos e, incansavelmente – aumentar sua capacidade frente ao concorrente/oponente.
   Por hora, quanto à aceitação dessa modalidade, controvérsias a parte, poderemos perceber algo de positivo nisto, já que há uma crescente procura em artes marciais, principalmente entre as mulheres que em alguns casos, estão esgotadas da musculação – melhor assim – grandes chances de retornarem as curvas... [sic]
   Finalmente, para cerrar de vez o diálogo desse prélio, vale lembrar aos apreciadores "de la pelota" que não é necessário deixar a paixão nacional e quando quiserem, poderão dar vazão as suas raivas torcendo pelo seu atleta ou time favorito – em especial para os brasileiros e, quem sabe, até passar a praticar artes marciais ou, não sendo você tão agressivo, no sentido  produtivo da palavra; correr pelos parques ao som de sua música preferida – afinal, pancada por pancada, é melhor que fique nos octógonos, longe das arquibancadas e dos estádios.