quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Futebol e Octógono


   Em meados de 2002 voltávamos de uma pelada dum final de semana qualquer. Cansados e com muito calor, resolvemos aportar num bar para tomar umas cervejas e como de praxe discutir os lances da partida. Na televisão, passava a reprise de uma luta de vale tudo. Dum lado, um japonês com massa corporal diferente da maioria do oriental que conhecemos, além do praticante de sumo, é claro; do outro, um americano com ar de superioridade – típico patriota vestido com a bandeira dos EUA. Nós, que estávamos entretidos na conversa futebolística tipicamente brasileira, não havíamos percebido o inicio da luta.
   Instantes depois, um dos nossos, coincidentemente um nissei, sansei ou yonsei... não sabia exatamente, até então nunca havíamos tocado sobre esse assunto – pois bem – ele começou gradativamente a desviar o olhar para a tv. Por análise empírica, atitudes como essa, naturalmente despertam interesse do grupo, alias – o que mais desviaria o foco do futebol além do próprio futebol?, senão uma linda e deleitosa madama adentrando no recinto ou, a mesma imagem incendiária explodindo em curvas e bunda na telinha de um comercial de cerveja. 
   Curiosamente, o interesse pela luta foi se alastrando pelo grupo, até chegar ao último membro que se recusara dar destaque a um aspirante esporte tão violento e dispensável. Os gols de letra a base do nunca mais fará um desses, as notáveis furadas, os frangos..., enfim, gozações intermináveis e, no entanto, o estimulo pela redonda; mais importante até aquele momento, fora reduzido num pequeno espaço chamado octógono. E, não restando alternativa, todos já estavam atentos aos lances, digo, golpes que eram oferecidos para o delírio do público que circulara o recinto. 
   Ao final, o que parecera lógico perante o contagio da torcida, que por sinal era americana, se confirmara: o aparentemente arrogante norte americano ganhara a luta por nocaute, deixando o japonês criado com fermento russo, todo ensangüentado e estirado ao chão.
   Depois desse dia, pouca coisa eu ouvia falar dessas lutas, até então, porque circulavam apenas em canais por assinatura e este, por sinal, à época, não fazia parte do meu fluxo de caixa.
   Anos depois, um amigo de academia que já estava totalmente dominado pela nova modalidade de luta, percebeu que eu andava um pouco irritado e estressado,  então me ofereceu um dvd que contava sobre a origem e defendia o propósito dessa sensação, dizia ele, todo empolgado. Eu, porem, educadamente e aberto a novos conhecimentos, aceitei. Confesso que não assisti. Preferia descarregar meu estresse com vicissitudes diferentes.
   Hoje, em resumo a toda essa história, tenho a dizer que passo a compreender a razão pelo qual esses dedicados malucos do MMA lutam, afinal, lutadores lutam e, nenhum deles é obrigado a fazê-lo; fazem, porque é o que sabem fazer e creio que temem conviver com a possível dor da força desaproveitada. E vou mais além ainda, fazendo uma analogia com quaisquer profissionais que buscam seu espaço: A cada luta, tanto no triunfo quanto na derrota (derrota essa que deixa marcas e no sentido literal da palavra), essa pessoa tem de pegar seu currículo, avaliar suas falhas, superar seus medos e, incansavelmente – aumentar sua capacidade frente ao concorrente/oponente.
   Por hora, quanto à aceitação dessa modalidade, controvérsias a parte, poderemos perceber algo de positivo nisto, já que há uma crescente procura em artes marciais, principalmente entre as mulheres que em alguns casos, estão esgotadas da musculação – melhor assim – grandes chances de retornarem as curvas... [sic]
   Finalmente, para cerrar de vez o diálogo desse prélio, vale lembrar aos apreciadores "de la pelota" que não é necessário deixar a paixão nacional e quando quiserem, poderão dar vazão as suas raivas torcendo pelo seu atleta ou time favorito – em especial para os brasileiros e, quem sabe, até passar a praticar artes marciais ou, não sendo você tão agressivo, no sentido  produtivo da palavra; correr pelos parques ao som de sua música preferida – afinal, pancada por pancada, é melhor que fique nos octógonos, longe das arquibancadas e dos estádios.

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