segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fulga

Nas mãos, uma garrafa de vinho barato, uma taça de cristal e páginas de um jornal ainda proveitoso. O pensamento totalmente ileso das malesas da vida. A respiração controlada e os músculos relaxados. Os óculos para leitura limpos. Lá fora, o silêncio apresentava-se como se fosse um convidado muito esperado. No céu, estrelas multiplicando-se envolta da lua – a mesma lua que já não o surpreendera, mas, com sua beleza costumeira.
Na verdade, ele não gostara de restaurantes com pratos caros de nomes confusos e água francesa – preferira um queijo quente duma padaria da esquina muito frequentada, entretanto, com poucos, mas bons amigos.
Era noite de domingo, nada mais lhe restara, a não ser a companhia das idéias maravilhosas – negócios foram fechados, chefes repelidos, um novo carro comprado, os erros avaliados e velhos amores lembrados; todos imune a questionamentos... Somente os lêmures o observavam. – Ah! Como é erudito o só! – pensara ele.
Depois de algumas horas, lá no fundo, pondo-se a cochilar; vozes se despiam quase imperceptíveis e, ele, então, percebera a fuga do silêncio. Tudo era gargalhada, com os saltos nas mãos e os cabelos já soltos, abriram a porta da frente invadindo seu bixeiro.
Naquele instante não esbravecera, pois, eram elas duas donzelas.

- Como foi o jantar?
- Ótimo! Faltou você querido!
- Boa noite papai!
- Boa noite meu anjo, durma bem!
- Te espero na cama, querido!

As vozes se foram pelas escadas... Com o frio da noite, a lua e as estrelas cobriram-se de nuvens, o silencio escondido e os lêmures, assustados com o barulho mortificador, faleceram (...)

- Já estou subindo querida!
- Boa noite a todos! (em silêncio)

Nenhum comentário:

Postar um comentário